Ambulatório do Luto será mais um modelo de acolhimento humanizado no HMIJS
A gestante N. fez todo o seu pré-natal de alto risco no Ambulatório do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, onde pôde ser acolhida por toda a equipe. O parto, no entanto, terminou ocorrendo em outro município da região. O bebê, infelizmente, não sobreviveu. O vínculo com a unidade de Ilhéus seguiu por mais um tempo já que ela teve que retornar para consultas pós-parto. Foi quando a equipe de Psicologia identificou sinais de depressão na paciente.
N. foi, então, a mulher escolhida pelo Setor de Psicologia do HMIJS para representar o projeto-piloto do “Ambulatório do Luto”, uma iniciativa que tem o objetivo de oferecer atendimento terapêutico às puérperas, de bebês nascidos com má formação e de fetos mortos ou natimortos. A proposta é seguir com o acompanhamento psicológico, a fim de minimizar o sofrimento e prestar acolhimento para escutar e entender a angústia que vivem.
A psicóloga Maria Quintino destaca que este projeto é inédito na região sul. O acompanhamento a N passou a acontecer todas as tardes de quartas-feiras, no ambulatório do HMIJS. “Essa triagem da equipe de Psicologia acontece mediante a necessidade e a expressão da emoção sentida pela paciente de vivenciar e falar sobre as fases do luto e buscar uma ressignificação desta dor”, explica Quintino. A paciente é convidada a participar de encontros com a equipe multidisciplinar para trocar experiências, expor situações e buscar caminhos que ajudem na autoestima e no recomeço familiar.
Recomeço
Durante a terapia – explica a profissional - são trabalhadas outras questões também, como conflitos em casa, muitas vezes intensificados com a perda do bebê, e, até questões vivenciadas durante a infância da paciente. Com três meses de escuta e conversas, N sentiu a necessidade de encerrar o ciclo e recebeu alta. Estava pronta para recomeçar.
“A partir deste projeto-piloto, agora vamos debater e apresentar melhor a proposta aos demais setores do hospital para que seja, efetivamente, uma ação integrada”, revela a psicóloga, acrescentando que, se necessário for, pode, inclusive, aumentar o número de dias da semana para o atendimento a este público. Outro fator que precisa ser organizado, segundo Maria Quintino, é estreitar a relação com as Prefeituras regionais, garantindo o transporte a estas mulheres. N., por exemplo, teve o apoio da secretaria de Saúde de Canavieiras, onde mora, para garantir o transporte durante o período de terapia.
Fisioterapia
Outros setores do HMIJS também contribuem com ações acolhedoras a estas mães que necessitam de apoio. A Fisioterapia também desenvolve um projeto-piloto denominado “Caixa do Luto”, que traz situações humanizadas para casos de mortes registradas na UTI Neonatal. A caixa traz cartinhas de acolhimento, apoio de toda a equipe da UTI, dentre outros itens. “A Fisioterapia humaniza muito os processos. Esse olhar diferenciado ajuda. O bebê no Ofurô, no Canguru, são efeitos de uma fisioterapia humanizada”, destaca a coordenadora Virgínia Marilena. “Um bebê que já está a um determinado tempo na UTI, que a gente passa a conhecer a família, como a família reage, a gente consegue ter uma noção como eles vão encarar o desfecho. No projeto-piloto executado até aqui tivemos uma família muito presente enquanto o bebê lutava pela vida”, completa. Essa também é uma ação humanizada que estará em atividade nos próximos meses, por conta do bom resultado obtido com esta primeira experiência.
A história não termina aqui
Coordenadora do Serviço Social, Maria das Graças dos Santos Souza, revela que seu setor também é decisivo neste processo. No momento em que o Serviço Social é comunicado da existência de óbito, a equipe vai até a família fazer acolhimento e passar orientações necessárias. “Agimos permanentemente para que essas mães possam entender que a história não termina aqui e que, mesmo diante da dor, é preciso se superar e vencer este momento tão difícil”, explica.
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a primeira unidade hospitalar da região a pleitear o Selo Estadual de Humanização, cuja missão é dialogar e complementar inovadoras práticas e processos de saúde nas instituições que integram o Serviço Único de Saúde (SUS). O Estado da Bahia é pioneiro no País na criação deste Selo. Gerido pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF), O HMIJS conta com 105 leitos, destinados à obstetrícia, à gestação de alto risco, pediatria clínica, UTI pediátrica, UTI neonatal e centro de parto normal, integrados à Rede Cegonha e atenção às urgências e emergências, com funcionamento 24 horas e acesso por demanda espontânea e referenciada de parte significativa da região sul da Bahia. O investimento do estado foi de aproximadamente 40 milhões de reais, entre obras e equipamentos. A unidade já realizou mais de 8 mil e 300 partos em quase três anos de funcionamento.